“Pois, outrora, éreis trevas,
porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz(porque o fruto da
luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade),provando sempre o que é
agradável ao Senhor” (Efésios 5:8-10).
Encerrando a nossa série de
pastorais sobre as bases estruturais do caráter cristão, nesta oportunidade,
estudaremos sobre a virtude da bondade.
Não há dúvidas de que uma das
principais deficiências da atual Igreja Evangélica Brasileira é a falta de vida
cristã prática lastreada em um sólido caráter cristão. Para o nosso corar de
vergonha (Dn 9:7), de forma geral, a Igreja tem vivenciado uma verdadeira crise
existencial, por conseguinte, tem estado mergulhada em uma crise de identidade.
E, como temos visto ao longo dos últimos estudos, o problema está no caráter. O
caráter de Cristo não tem sido formado no caráter dos crentes e estes estão
cada vez menos parecidos com Cristo.
Já vimos que a obediência, a fé,
a paciência, o domínio próprio e a mansidão formam as bases do verdadeiro
caráter cristão. Destaco, porém, nesta oportunidade, que a bondade é o que
podemos denominar de “a cereja do bolo” do caráter cristão, ou seja, a pérola
que dá brilho à vida prática do crente.
Os crentes foram chamados para o
trabalho cristão (1ªPe 2:9; 1ªCor.9:16) e esse trabalho precisa refletir o caráter
de Deus (Mt 5:16). O caráter de Deus é absolutamente marcado pela bondade,
benignidade, mansidão e misericórdia. Por conseguinte, em tudo e, em todo o
tempo, o crente deve portar-se bondoso e benigno.
Essencialmente,
bondade é um dos
atributos morais e comunicáveis de Deus, faz parte do Seu ser, da Sua essência.
Deus é bom (Sl 118:1; Mc 10:18), todos os Seus atos são bons, bem como, todas
as Suas obras (Gn 1:31). Em ralação ao homem, a bondade se manifesta como uma
das características do fruto do Espírito Santo (Gl5:22-23),
portanto, como marca de quem nasceu de novo.
Quem nasceu de novo tem o
Espírito Santo, a sua vida é vivida no Espírito e, desta forma, aqueles que
vivem pelo (e no) Espírito devem encher a terra de bondade, de modo que o mundo
veja a bondade de Deus em todas as suas ações.
Embora seja a pérola do caráter
cristão, entender e viver o atributo da bondade não é tarefa fácil. O homem
nascido em pecado é mau por natureza (Gn 6:5; Sl 51:5; Mc 7:21), daí a
necessidade da intervenção do Espírito Santo, gerando e fazendo abundar no
crente o Seu fruto.“Mas o fruto do Espírito é: [...] benignidade,
bondade”.
O apóstolo Paulo apresenta dois
sinônimos para essa característica do fruto do Espírito Santo, que guardam
relação muito próxima entre si. Conquanto todas sejam produções do Espírito em
nós e por nosso intermédio, são expressões com sentidos complementares,
entretanto, distintos. São elas: benignidade e bondade.
A benignidade (“χρηστοτης” – “chrestotes” - “bondade, oposto
da irritabilidade que gera aspereza”), tem relação com brandura, suavidade,
carinho, com gentileza. Paulo se mostrou gentil para com os tessalonicenses e
recomendou a mesma atitude ao seu filho na fé, Timóteo (1Ts 2:7-8; 2Tm 2: 24).
Este aspecto da bondade tem a ver, portanto, com empatia e simpatia.
A bondade (“αγαθωσυνη” – “agathosune”- “integridade ou retidão de coração e vida, o oposto de malícia”), é uma virtude
interior que inunda todas as ações do crente, trata-se da capacidade de fazer o
bem com pureza na essência. Este aspecto pode ser muito bem exemplificado pela
vida e testemunho de dois “Josés”, o filho de Jacó e o esposo de Maria, a mãe
de Jesus. O primeiro foi essencialmente bom para com os seus irmãos (sua
família) que tantos males lhe causaram (Gn 41:51; 45:1-28). O segundo, mesmo
podendo agir com justiça e denunciar sua esposa, não o fêz, para não difamá-la
(Mt 1:19). Escrevendo aos gálatas, Paulo
os incentiva a praticarem o bem (Gl 6:10). No geral, esse termo tem o sentido de ação generosa,
liberal, grandiosa e cuidadosa, sempre de maneira altruísta.
É essa bondade magnânima que dá brilho e beleza à vida cristã, por isso,
não existe a possibilidade de um cristão verdadeiro não ser bom. A bondade
gerada no coração do cristão pelo Espírito Santo produz um comportamento magnanimamente virtuoso. O filho de Deus recebeu,
através do Espírito Santo, um novo coração (Hb8:10), por isso, é chamado para
expressar a bondade de Deus, seu pai, à todos e em todos os seus atos (1ªTs
1:11).
Para
produzir abundantemente o fruto da “bondade magnânima”, o princípio Bíblico
apresentado pelo apóstolo Paulo é o do despojamento e revestimento (Cl
3:5-11). O cristão precisa, dia a dia, identificar os
comportamentos, atitudes e pensamentos que não agradam a Deus e se livrar deles
e, concomitantemente, buscar genuinamente o fruto/obras do Espírito Santo (1ª
Pedro 2:2).
O crente faz
isso através da renovação da sua mente (Rm 12:2), reconhecendo que Deus é bom,
que a Sua bondade o alcançou (Sl 23 e Lm3:22)
e que é seu compromisso revelar o caráter de Deus em todas as suas
ações. Assim, e somente assim, o crente pode ter excelência de caráter e ser
bondoso. Enchamos a terra de bondade! Mudemos a realidade presente! Sejamos
diferentes!
Rev. Marcos
Serjo
Pastor Sênior da
IPB Central de Cuiabá
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