“O amor é [...] não se alegra com a injustiça, mas regozija-se com a verdade; tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta. O amor jamais acaba...” (1 Co 13:4-8)
A segunda seção dos mandamentos recíprocos trata dos mandamentos expressos na forma negativa e, de maneira geral, apresenta os deveres dos crentes no sentido de protegerem o Corpo (de Cristo – a Igreja) de vários males que aborrecem a Deus, poluem e infectam toda a comunidade. São males que funcionam como fermento maldito que, independentemente da quantidade, leveda a massa inteira.Na realidade tratam do testemunho que os crentes devem evidenciar, como servos do amor.
Visto ser a reciprocidade indispensável para preservação da unidade dos diferentes, o cumprimento dos mandamentos recíprocos se torna condição precípua para o testemunho cristão. Podemos dizer que ao cumprir tais mandamentos, o crente manifesta o fruto do Espírito.
Visando preservar a Igreja (Corpo de Cristo) de males que engendram contendas, o Novo Testamento nos apresenta os seguintes mandamentos recíprocos expressos na forma negativa: “Não julgueis uns aos outros” (Rm14:13); “Não faleis mal uns dos outros” (Tg 4:11); “Não vos queixeis uns dos outros” (Tg 5:9); “Não vos mordeis e devoreis uns aos outros” (Gl 5:14,15); “Não vos provoqueis uns aos outros” (Gl 5:25,26); “Não tenhais inveja uns dos outros” (Gl 5:25-26); “Não mintais uns aos outros” (Cl. 3:9-10). Todos esses mandamentos se tornam uma consequência na vida daquele que ama e, são plenamente cumpridos quando somos “transparentes uns aos outros” (Tg 5:16) e “perdoamos mutuamente uns aos outros” (Ef. 4:32).
Nossos relacionamentos podem mudar para melhor a partir da nossa decisão de observar com alegria o que Deus está mandando em Sua Palavra. E Ele por Sua graça, há de nos capacitar a termos relacionamentos vitoriosos e amizades duradouras.
Sabemos que é propósito eterno de Deus que esses relacionamentos sejam autênticos entre os membros da Sua família. Daí a grande relevância dos mandamentos recíprocos.
Sem dúvidas, quando não cumprimos os mandamentos acima apresentados, certamente, expomos o Corpo de Cristo e, em todas as circunstâncias, cometemos pecado, poluímos e infectamos a comunidade.
Por exemplo, em nenhum lugar na Bíblia, Deus nos autoriza a julgar o nosso irmão, pelo contrário, tal prerrogativa é exclusiva dEle, que é justo e santo. Parafraseando Calvino, por causa do orgulho que muitas vezes domina o coração do homem, ele se torna excessivamente indulgente para com os seus próprios erros e, extremamente intolerante para com os erros alheios.
Os imperativos expostos acima são mandamentos claros e simples, extremamente profundos por sua objetividade e, portanto, praticamente excluem qualquer possibilidade de interpretação errônea.
Na realidade, Deus, em Sua infinita sabedoria, jamais nos deixou à vontade para fazer uso da lei em prol de condenar quem quer que seja. “Ao contrário, se a lei não aponta, antes de tudo, para mim mesmo, então, definitivamente, não compreendi o seu propósito e, consequente e inevitavelmente, farei uso equivocado dos preceitos divinos, julgando aos outros e difamando-os, descumprindo o que nos é dito pelo apóstolo Paulo em (1Tm 6.3-5).
Exortando aos gálatas o apóstolo Paulo diz “Se vós, porém, vos mordeis e devorais uns aos outros, vede não vos consumais também uns aos outros" (Gl.5:15), é interessante notar que esta exortação está no contexto do uso da liberdade e, nesse caso, Paulo faz questão de ensinar que a liberdade que em Cristo o crente tem, é limitada pelo amor. Ele explica: “Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne; sede, antes, servos uns dos outros, pelo amor. Porque toda a lei se cumpre em um só preceito, a saber: Amarás o teu próximo como a ti mesmo” (Gl. 5:13-14) e, completa dizendo: “Digo, porém: andai no Espírito e jamais satisfareis à concupiscência da carne” (Gl. 5:16).
Naturalmente, a linguagem usada no verso “15”, é altamente figurativa, embora não seja obscura. “Morder e devorar uns aos outros”, ao ver do Apóstolo, refere-se às contendas no seio da Igreja, cujos resultados são enormes feridas que deixam cicatrizes profundas que marcam vidas e Igrejas, às vezes, para sempre.
Certo escritor disse: "Quando cães e lobos se mordem, agem conforme suas naturezas, mas sem dúvida, é triste ver as ovelhas fazendo o mesmo". O mesmo escritor disse: "Preferia ser mordido por um cachorro fora do aprisco, do que por uma ovelha dentro dele. A mordida de um crente é mais cortante do que qualquer outra".
A não obediência aos mandamentos recíprocos pode ferir, de morte, a Igreja, pode torná-la em “pedaços mais rápido do que qualquer ataque de homens e/ou demônios vindos de fora”. “Brigas e contendas impedem a edificação por dentro e a conversão por fora”.
Como servos do amor devemos ser (em todas as circunstâncias) criteriosos em nosso modo de criticar, avaliar, julgar e questionar atitudes dos outros, inclusive, ao recebermos alguma informação negativa sobre a vida ou atitude de alguém. Sobre esse assunto Charles Spurgeon disse: “Não creia em metade do que você ouve; não repita metade do que crê; quando ouvir uma notícia negativa, divida-a por dois, depois por quatro, e não diga nada a respeito do restante”. O crente não pode esquecer em nenhum momento de que só Jesus Cristo é Juiz (At. 10:42; Tg 4:12).
Penso que obedeceremos aos mandamentos recíprocos quando orarmos como Davi: “Põe guarda, Senhor, à minha boca; vigia a porta dos meus lábios” (Sl 141:3) e mais: “As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coração sejam agradáveis na tua presença, Senhor, rocha minha e redentor meu!” (Sl 19:14). Somos servos por amor!
Pr. Marcos Serjo
Pastor Sênior da IPB Central de Cuiabá
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