terça-feira, 22 de março de 2011

A Relevância Contemporânea da Reforma Protestante do Século XVI




16 “Pois não me envergonho do evangelho, porque é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê, primeiro do judeu e também do grego; 17 visto que a justiça de Deus se revela no evangelho, de fé em fé, como está escrito: O justo viverá por fé” (Rm.1:16-17)

            Há 493 anos, precisamente aos 31 dias do mês de outubro de 1517, limiar do século XVI, véspera do dia de todos os santos, um monge agostiniano de apenas 34 anos de idade, pregou na porta da catedral de Wittenberg um documento contendo 95 teses, as quais de forma geral protestavam contra a vida e o testemunho do clero vigente, bem como, contra muitas doutrinas e práticas da Igreja Romana. Refiro-me a Martinho Lutero e ao início do movimento que mais tarde receberia o nome de reforma protestante do século XVI.
             Muitos poderiam perguntar: "por que relembrar o que aconteceu há quase 500 anos?" Ao contrário do que muita gente pensa, temos muito o que aprender com a reforma protestante do século XVI. Na realidade, o nosso interesse em relembrar a reforma vai muito além da historiografia, tem a ver com a nossa identidade, com as nossas raízes, para não dizer, com a nossa fé.
            O movimento da reforma, sem dúvida, foi um poderoso mover de Deus numa época extremamente crítica da história da humanidade quando, especialmente na Europa, um verdadeiro mar de lama chafurdava, sem exceção, todas as camadas da sociedade, em todos os rincões do continente.          A igreja estava opulenta e os seus líderes embriagados pela luxúria e, portanto, totalmente alheios aos clamores do povo que jazia sem forças, espoliado, na mais profunda miséria e tenebrosa escuridão.
            Não tenham dúvidas, irmãos, mais cedo ou mais tarde, Deus escuta o clamor (o gemido) dos oprimidos e sai em socorro do Seu povo. Há 133 anos Deus já dava sinais da Sua ação, levantando fiéis arautos como John Wycliff na Inglaterra (no século XIV, 1384), John Huss na Boêmia (no começo do século XV, 1415) e Jerônimo Savanarola na Itália (no final do século XV, 1498), conhecidos na história como pré-reformadores. Mas nem a igreja e nem o seu clero deram ouvidos aos chamamentos à razão, até que Deus levanta Lutero e com ele, muitos outros.
            Por isso, devemos observar aqueles eventos e aqueles homens e mulheres, para que possamos aprender deles e seguir o exemplo por eles deixado, discernindo a sua mensagem e aplicando-a em nossos dias.
            Nosso apreço pela Reforma e suas doutrinas não deve levar-nos a uma visão utópica e idealista com relação às suas personagens principais. Devemos reconhecer os seus feitos, mas também as suas limitações. É na compreensão da falibilidade humana que detectamos a mão soberana de Deus empreendendo os seus propósitos ao longo da história.
            Lutero não liderou um movimento político ou sociológico. A Reforma Protestante do século XVI, antes de qualquer coisa, foi um movimento espiritual, um grande reavivamento espiritual operado por Deus, que começou com uma experiência pessoal de conversão. A reforma não formulou novas doutrinas, ou novas verdades. O seu grande mérito reside na redescoberta da Bíblia em sua pureza e singularidade. A Palavra de Deus, cujas doutrinas estavam soterradas sob os entulhos da tradição, foi resgatada. É por isso que, em sua essência, uma das maiores lições que a Reforma Protestante tem a nos ensinar é justamente a verdade de que o segredo do sucesso, na esfera da Igreja e das coisas do Espírito, é nunca desprezar as antigas doutrinas da graça e em momento nenhum ou sob quaisquer circunstâncias abandonar a Palavra da Verdade.
            Em nosso estudo sobre a reforma, detemo-nos um pouco sobre o contexto dos eventos. Basicamente os problemas estavam em quatro áreas:
                        A - Espiritualè Não existia vida ‘espiritual’, era uma gama de rituais obsoletos, frios e distantes do povo.
                        B - Teológico (doutrinária) è Existiam, dentre muitos outros, os problemas da: 1) Mariolatria e o culto aos santos; 2) Os sacramentos, de dois, passaram para sete, com ênfase na confissão auricular e na penitência (todos eram obrigados a se confessar ao sacerdote pelo menos uma vez por ano e quem confessava tinha que fazer penitências); 3) O purgatório e as indulgências. A igreja cria que possuía o perdão divino e podia concedê-lo aos pecadores; 4) A doutrina da salvação pelas obras; 5) A doutrina da sucessão petrina è O papa é o vigário de Cristo; ou, “O santo vigário” – “Vicários” Latim, sig. “Substituto”; 6) A Simonia (a venda de cargos eclesiásticos). Somado a isto tudo, o povo não podia ler a Bíblia.
                        C - Moralè A corrupção do clero e dos mosteiros era algo extremamente triste. A avareza, a opulência, a orgia e as imoralidades eram as principais marcas do alto clero, principalmente no papado dos papas Alexandre VI e Leão X.
                        D - Socialè A Igreja estava rica e o povo cada vez mais pobre. Em uma de suas 95 teses, Lutero argumentou que é melhor dar aos pobres e emprestar aos necessitados do que comprar indulgências.
            Para corrigir estes e outros erros e restaurar a verdadeira Igreja, os reformadores procuraram resgatar as sempre novas e verdadeiras doutrinas da graça. Assim, não somente devemos relembrar o poderoso avivamento do século XVI, denominado de Reforma Protestante, como também, restaurar e praticar em nossas vidas, as antigas, porém contemporâneas doutrinas proclamadas pelos reformadores, a saber: Sola Gracia; Sola Fide; Sola Escripture; Sola Dio del Glória.

Pr. Marcos Serjo – Pastor Sênior da IPB Central Cuiabá-MT


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