quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Férias do Pastor















DOMÍNIO PRÓPRIO: ESSÊNCIA DA OBEDIÊNCIA


“Como cidade derribada, que não tem muros, assim é o homem que não tem domínio próprio” (Provérbios 25:28).

            Já sabemos que a obediência é a mola mestra para o desenvolvimento do caráter cristão, visto quea santidade começa na mente e se expressa nas ações e isto será impossível se não houver uma atitude de diligente obediência em todas as áreas da vida. Nesse sentido, o domínio próprio torna-se absolutamente indispensável. Na essência, a obediência tem relação com retidão e prática, por conseguinte, sem a virtude do domínio próprio (temperança), ninguém conseguirá ser obediente. A falta de temperança sempre revelará um caráter deficiente!
            Um homem sem domínio próprio é um homem sem freios, vive desgovernadamente, se torna um grande perigo para si e para os outros, principalmente, para os mais próximos.
            Na visão do sábio Salomão, o homem sem domínio próprio assemelha-se a uma cidade sem muros e, o justo que perde a temperança diante do perverso, a um poço contaminado, fonte de água barrenta (Pv 25:26, 28).
            Antigamente, os muros de uma cidade eram extremamente importantes, representavam segurança e garantiam proteção contra os ataques quase sempre cruéis e fatais dos inimigos. Proporcionavam paz e vida aos seus moradores. Com sabedoria, o provérbio ensina que quem não se domina é como uma cidade sem muros, por conseguinte, encontra-se desprotegido. Autocontrole ou o domínio próprio é o muro de defesa que se opõe aos desejos pecaminosos que fazem guerra contra a alma. Sem autocontrole a pessoa se torna presa fácil para qualquer espécie de invasor.
            A Bíblia fala da temperança (domínio próprio) como uma das qualidades do fruto do Espírito (Gl5: 22-23). Portanto, indispensável na prática cristã!
            O Novo Testamento usa duas palavras, comumente traduzidas por domínio próprio ou temperança, a saber: εγκρατεια” –egkrateia” de “kratos” (força) significa “autocontrole”, “temperança”, “moderação”, “sobriedade” (virtude de alguém que domina seus desejos, paixões e apetites) e, σωφρων” – “sophron” significa "sensatez", "ser de mente sadia", “equilibrado” (moderação apropriada que não deixa a pessoa ir além dos limites determinados, pessoa que freia os próprios desejos e impulsos).
            Platão fala de “egkrateia” como o domínio dos prazeres e dos desejos. Aristóteles afirmou que: “À ‘egkrateia’ pertence a capacidade de refrear o desejo pela razão” (Das Virtudes e dos Vícios, 5.1).
            “Toda a iniquidade torna o homem mais injusto, e a falta de domínio próprio parece ser [a mais terrível] iniquidade. O homem descontrolado é o tipo de homem que age de conformidade com o desejo e de modo contrário ao raciocínio e, descontrolado agirá injustamente, segundo o seu desejo” (Ética a Eudemo, 2.7.6).
            Segundo o apóstolo Paulo, o cristão precisa fazer uso correto das bênçãos concedidas por Deus, inclusive, da liberdade recebida em Cristo, por isso disse:Porque vós, irmãos, fostes chamados à liberdade; porém não useis da liberdade para dar ocasião à carne”, e mais, “vede, porém, que esta vossa liberdade não venha, de algum modo, a ser tropeço para os fracos” (1 Co 8:9;Gl 5:13).
            O domínio de si mesmo é algo extremamente difícil e somente o Espírito de Deus poderá nos levar a alcançá-lo de modo pleno, no entanto, apesar de difícil, é valioso devido às bênçãos que ele proporciona (Pv 16:32). Em termos Bíblicos e práticos, o domínio sobre o desejo descontrolado e insaciável não poderá ser alcançado sem o auxílio e a direção do Espírito Santo (Rm 8:12-14; Gl 5:22-23).
            A verdadeira santidade inclui o domínio sobre o corpo e a mente. Deus exige santidade no corpo e nos pensamentos (1Co 9:27 e 2 Co 10:5). É nesse contexto, que o domínio próprio se reveste de essencial importância para a credibilização do caráter (testemunho) cristão.
            Seguir a santidade significa reconhecer que o corpo é templo do Espírito Santo e que devemos glorificar a Deus com ele, bem assim, que os nossos pensamentos devem ser controlados e submetidos à obediência de Cristo Jesus. Paulo nos alerta contra a possibilidade de controlar o corpo e deixar os pensamentos sem freios (Cl 2:23).            
            O cristão precisa entender que os seus pensamentos são tão importantes quanto as suas ações e que Deus tem conhecimento de ambos. Deus deseja dominar todas as áreas da nossa vida! (Sl 139:1-4 e 1Sm 16:7; 1Co 7:9; 9:25; Tg 3: 2, 8).
            Tenha sob absoluto domínio a mente, a língua, a ira, o mau gênio, o temperamento, os complexos, a vaidade, as circunstâncias, as emoções e os apetites da carne. Esta é uma tarefa que o cristão não conseguirá sozinho. Busque o auxílio de Deus, mantenha comunhão com Ele por meio da oração, leitura da Palavra e jejum.



“A Soberba precede a Queda!”




A principal lição do 11 de Setembro de 2001 
A soberba do teu coração te enganou, ó tu que habitas nas fendas das rochas, na tua alta morada, e dizes no teu coração: Quem me deitará por terra?Se te remontares como águia e puseres o teu ninho entre as estrelas, de lá te derribarei, diz o Senhor” (Obadias 1:3-4).

                O dramático e terrível ataque terrorista ocorrido na manhã do dia 11 de Setembro de 2001 (exatamente às 8h48m e 9h03m locais), que destruiu as duas torres do maior conjunto comercial do mundo, o World Trade Center, em Nova Iorque, alvejados por duas aeronaves comerciais Boeing 767, com um total de 157 passageiros a bordo, causou um profundo estrago no prédio do Pentágono e a violenta e imediata reação do governo dos Estados Unidos, expôs para o mundo inteiro muitas lições, especialmente, sobre a soberba (o orgulho), assim como, se o “Senhor não guardar a cidade, em vão vigia a sentinela” (Salmo 127: 1).
                O fatídico 11 de setembro, ocorrido há exatos 10 anos, proporcionou em escala mundial inúmeras reflexões e debates (científicos, sociológicos, políticos, econômicos e religiosos), muitos deles, extremamente relevantes.
                Sem pretensões relacionadas às ciências sociopolíticas, bem como, sem querer espiritualizar os fatos ocorridos há 10 anos, quero apenas relacioná-los ao princípio Bíblico de que a soberba e a queda, guardam entre si, uma profunda relação de causa e efeito, ou seja, a soberba sempre conduzirá à queda (ruína) ou, a ruína sempre será precedida pela soberba (orgulho). Daí a grande preocupação Bíblica com o assunto, que diga-se de passagem, os EUA dos nossos dias, parecem não ter aprendido.“A soberba precede a ruína,e a altivez do espírito, a queda”.“Em vindo a soberba, sobrevém a desonra,mas com os humildes está a sabedoria” (Provérbios 16:18 e 11:2).
                Segundo o jornalista Paulo Pontes, âncora do Jornal da Manhã da Jovem Pan, “a soberba americana não muda nunca [...]. A arrogância americana não permite que Barak Obama admita que os EUA estão falidos”.
                A Bíblia diz que a soberba engana o coração, Obadias, escritor do terceiro menor livro da Bíblia, profetiza essencialmente contra Edom, descendente de Esaú, filho de Isaque, irmão (gêmeo) de Jacó, por soberbamente desprezar a Judá e confiar nas suas fortalezas edificadas sobre as escarpas montanhosas do Sul.
                Da profecia de Obadias, dentre outras, podemos destacar as seguintes lições: 1). Deus abomina a soberba e sempre se levantará contra os soberbos para humilhá-los; 2). Toda confiança que não esteja em Deus é pura vaidade e gera soberba; 3). Nenhum soberbo poderá se esconder da ira de Deus, onde quer que esteja aninhado, mesmo entre as estrelas, de lá será derrubado, mais cedo do que imagina, porque o dia do Senhor está perto; 4). A soberba é pecado e Deus o punirá pesadamente, exatamente como castigou a Edom, fazendo-o desaparecer do mapa, para todo o sempre.
                Nesse sentido, a oração de Davi se torna ainda mais relevante quando suplica: “Também da soberba guarda o teu servo, que ela não me domine; então, serei irrepreensívele ficarei livre de grande transgressão” e completa: As palavras dos meus lábios e o meditar do meu coraçãosejam agradáveis na tua presença,Senhor, rocha minha e redentor meu!” (Salmo 19: 13 e 14).
                A soberba é pecado. Alguém disse que a soberba “só morre meia hora depois do dono”.A soberba tem muitos filhos: orgulho, vaidade, vanglória, arrogância, prepotência, presunção, autossuficiência, amor próprio, exibicionismo, egolatria, etc.
Podemos dizer que a soberba é a “cultura do ego”.
                O soberbo se esquece de que é uma simples criatura, em tudo dependente de Deus, por isso, rejeita as coisas pequenas e vive procurando o reconhecimento das pessoas e geralmente se torna preconceituoso.
                A Palavra de Deus é muito clara nos exortando a rejeitar a soberba, visto que, “olhos altivos” (soberba)vêm em primeiro lugar na lista das coisas que Deus odeia, conforme o constante em Provérbios 6: 16 a 19.
                Por outro lado, por ser o oposto da soberba, a humildade é grande virtude, a que mais caracterizou o próprio Senhor Jesus, que desde o nascimento em uma manjedoura, até à morte na cruz do calvário, viveu de maneira humilde (Fp 2:5-11).
                A Bíblia diz: “A soberba do homem o abaterá, mas o humilde de espírito obterá honra” (Pv 29:23). Os EUA têm endurecido o coração e rejeitado os ensimamentos da Palavra de Deus e, sem dúvidas, têm começado a colher os frutos da sua desobediência.
                Na visão do profeta Obadias a soberba precede ao engano e a humilhação (vs.2-4 e 8-9; “Quem a si mesmo se exaltar será humilhado” Mt 23:12); A vaidade e a opulência precedem a miséria (vs.5-7; “Na plenitude da sua abastança, ver-se-á angustiado; toda a força da miséria virá sobre ele” - Jó 20:22); A desobediência precede a ruína e o castigo de Deus (vs.10-14).
                Não somente os EUA, mas todo o mundo, precisam saber que “de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará” (Gl 6:7).
                O grande desafio para o crente é buscar a humildade e vigiar a soberba, como diz o salmista: Cria em mim, ó Deus, um coração puro e renova dentro de mim um espírito inabalável” (Salmo 51:10).

Pr. Marcos Serjo
Pastor Sênior da IPB Central de Cuiabá

Bondade: A Pérola do Caráter Cristão!


Pois, outrora, éreis trevas, porém, agora, sois luz no Senhor; andai como filhos da luz(porque o fruto da luz consiste em toda bondade, e justiça, e verdade),provando sempre o que é agradável ao Senhor” (Efésios 5:8-10).

                Encerrando a nossa série de pastorais sobre as bases estruturais do caráter cristão, nesta oportunidade, estudaremos sobre a virtude da bondade.
                Não há dúvidas de que uma das principais deficiências da atual Igreja Evangélica Brasileira é a falta de vida cristã prática lastreada em um sólido caráter cristão. Para o nosso corar de vergonha (Dn 9:7), de forma geral, a Igreja tem vivenciado uma verdadeira crise existencial, por conseguinte, tem estado mergulhada em uma crise de identidade. E, como temos visto ao longo dos últimos estudos, o problema está no caráter. O caráter de Cristo não tem sido formado no caráter dos crentes e estes estão cada vez menos parecidos com Cristo.
                Já vimos que a obediência, a fé, a paciência, o domínio próprio e a mansidão formam as bases do verdadeiro caráter cristão. Destaco, porém, nesta oportunidade, que a bondade é o que podemos denominar de “a cereja do bolo” do caráter cristão, ou seja, a pérola que dá brilho à vida prática do crente.
                Os crentes foram chamados para o trabalho cristão (1ªPe 2:9; 1ªCor.9:16) e esse trabalho precisa refletir o caráter de Deus (Mt 5:16). O caráter de Deus é absolutamente marcado pela bondade, benignidade, mansidão e misericórdia. Por conseguinte, em tudo e, em todo o tempo, o crente deve portar-se bondoso e benigno.
                Essencialmente, bondade é um dos atributos morais e comunicáveis de Deus, faz parte do Seu ser, da Sua essência. Deus é bom (Sl 118:1; Mc 10:18), todos os Seus atos são bons, bem como, todas as Suas obras (Gn 1:31). Em ralação ao homem, a bondade se manifesta como uma das características do fruto do Espírito Santo (Gl5:22-23), portanto, como marca de quem nasceu de novo.
                Quem nasceu de novo tem o Espírito Santo, a sua vida é vivida no Espírito e, desta forma, aqueles que vivem pelo (e no) Espírito devem encher a terra de bondade, de modo que o mundo veja a bondade de Deus em todas as suas ações.
                Embora seja a pérola do caráter cristão, entender e viver o atributo da bondade não é tarefa fácil. O homem nascido em pecado é mau por natureza (Gn 6:5; Sl 51:5; Mc 7:21), daí a necessidade da intervenção do Espírito Santo, gerando e fazendo abundar no crente o Seu fruto.“Mas o fruto do Espírito é: [...] benignidade, bondade”.
                O apóstolo Paulo apresenta dois sinônimos para essa característica do fruto do Espírito Santo, que guardam relação muito próxima entre si. Conquanto todas sejam produções do Espírito em nós e por nosso intermédio, são expressões com sentidos complementares, entretanto, distintos. São elas: benignidade e bondade.
                A benignidade (χρηστοτης” – “chrestotes” - “bondade, oposto da irritabilidade que gera aspereza”), tem relação com brandura, suavidade, carinho, com gentileza. Paulo se mostrou gentil para com os tessalonicenses e recomendou a mesma atitude ao seu filho na fé, Timóteo (1Ts 2:7-8; 2Tm 2: 24). Este aspecto da bondade tem a ver, portanto, com empatia e simpatia. 
                A bondade (“αγαθωσυνη” – “agathosune”- “integridade ou retidão de coração e vida, o oposto de malícia”), é uma virtude interior que inunda todas as ações do crente, trata-se da capacidade de fazer o bem com pureza na essência. Este aspecto pode ser muito bem exemplificado pela vida e testemunho de dois “Josés”, o filho de Jacó e o esposo de Maria, a mãe de Jesus. O primeiro foi essencialmente bom para com os seus irmãos (sua família) que tantos males lhe causaram (Gn 41:51; 45:1-28). O segundo, mesmo podendo agir com justiça e denunciar sua esposa, não o fêz, para não difamá-la (Mt 1:19).  Escrevendo aos gálatas, Paulo os incentiva a praticarem o bem (Gl 6:10). No geral, esse termo tem o sentido de ação generosa, liberal, grandiosa e cuidadosa, sempre de maneira altruísta.
                É essa bondade magnânima que dá brilho e beleza à vida cristã, por isso, não existe a possibilidade de um cristão verdadeiro não ser bom. A bondade gerada no coração do cristão pelo Espírito Santo produz um comportamento magnanimamente virtuoso. O filho de Deus recebeu, através do Espírito Santo, um novo coração (Hb8:10), por isso, é chamado para expressar a bondade de Deus, seu pai, à todos e em todos os seus atos (1ªTs 1:11).
                Para produzir abundantemente o fruto da “bondade magnânima”, o princípio Bíblico apresentado pelo apóstolo Paulo é o do despojamento e revestimento (Cl 3:5-11). O cristão precisa, dia a dia, identificar os comportamentos, atitudes e pensamentos que não agradam a Deus e se livrar deles e, concomitantemente, buscar genuinamente o fruto/obras do Espírito Santo (1ª Pedro 2:2).
                O crente faz isso através da renovação da sua mente (Rm 12:2), reconhecendo que Deus é bom, que a Sua bondade o alcançou (Sl 23 e Lm3:22)  e que é seu compromisso revelar o caráter de Deus em todas as suas ações. Assim, e somente assim, o crente pode ter excelência de caráter e ser bondoso. Enchamos a terra de bondade! Mudemos a realidade presente! Sejamos diferentes!

Rev. Marcos Serjo
Pastor Sênior da IPB Central de Cuiabá

MANSIDÃO: A MARCA DE UM CARÁTER MOLDADO PELO ESPÍRITO SANTO!


Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria, mediante condigno proceder, as suas obras” (Tiago 3:13).


            Não é demais reafirmar que o caráter cristão é formado pelo desenvolvimento das virtudes cristas.
            A virtude que estudaremos hoje, indispensável para a formação do caráter cristão é MANSIDÃO, do grego “πραυτης” – “prautes” (bondade de espírito – brandura - manso), a oitava característica do fruto do Espírito Santo e a terceira bem-aventurança (Gl5:23; Mt 5:3).
            Assim como a paciência e o domínio próprio, a mansidão é uma virtude escassa em nossos dias, contudo, extremamente necessária.
            No pensamento e na linguagem modernos, a mansidão não é uma qualidade admirável. Hoje em dia, a palavra contém uma ideia de falta de dinâmica e ânimo, ou falta de força e virilidade.  Comumente achamos que manso é aquele indivíduo que tem "sangue de barata". Realmente a nossa língua e cultura empobrecem demasiadamente a palavra grega traduzida por mansidão. No Novo Testamento, ao contrário de inércia, fraqueza, covardia ou medo; a palavra grega prautes” fala do poder de abrandar, acalmar e tranquilizar. Fala da virtude que é "o unguento que pode aliviar a dor de uma ferida", da suavidade da voz daquele que ama.
            Na realidade é uma palavra difícil de definir, porque não há de fato uma palavra em nossa língua que corresponda ao vocábulo grego. O Dicionário Colegial de Webster dá um significado mais antigo de brandura como "suportando a ferida com paciência e sem ressentimento". Talvez não seja um significado muito longe da palavra Bíblica, mas o grego é muito mais positivo.
            Na Bíblia, a palavra mansidão aparece com os seguintes significados, dentre outros: Brandura (Gl6:1); Cortesia – atencioso (Tt3:2); Amável  (Ef4:2); Discreto – não faz alarde (Tg 3:13); Bondade (1ªCo4:21); Modéstia  (1ªTm 3:2) e, nas versões inglesas, ainda aparece com o sentido de humildade de sabedoria e espírito terno que perdoa (ternura).
            Podemos dizer que a mansidão é o marketing do Testemunho Cristão, é o cartão de visitas do crente, é a virtude de frente. Se é verdadeiro o adágio que diz "que a primeira impressão é a que fica", sem dúvidas, a mansidão é a virtude responsável pela primeira impressão. Esta virtude traduz um milagre de Deus, onde Ele concilia força e delicadeza, força e suavidade.
            Os grandes sábios da antiguidade exaltaram demasiadamente esta virtude. Nos escritos de Platão e Aristóteles ela é citada como a arma dos verdadeiros sábios e poderosos. Platão chega compará-la a um cão de guarda que revela ferocidade e hostilidade valente aos estranhos e amizade gentil para com os de casa, aos quais conhece e ama. Segundo Platão, "manso é aquele que tem ao mesmo tempo impetuosidade e delicadeza nos mais altos graus".    Para Aristóteles, mansidão ("prautes") é a “capacidade para suportar recriminações e ofender com moderação, sem embarcar em vinganças rapidamente, e não ser provocado facilmente à irritação, mas estar livre de amargura e de contenção, tendo tranquilidade e estabilidade no espírito" (Sobre Virtudes e Vícios). Isto não implica que nunca há um lugar para a irritação no homem gentil. Certamente a pessoa que mostra "prautes" se zanga "pelo motivo correto, e contra as pessoas corretas, e da maneira correta, e no momento correto, e pelo tempo correto" (Aristóteles, Ética a Nicómaco)
            Paulo, em particular, exortava todos os cristãos a demonstrarem esta qualidade em suas vidas. Para ele, a mansidão é um sinal de maturidade para todos os cristãos em todos os seus relacionamentos (Cl3:12;Ef 4:1-4; 1ªTm 6:11).
            Segundo Calvino, “há muitos que mantêm certa aparência de mansidão e de modéstia, enquanto não são contrariados por coisa alguma. Mas, poucos são os que continuam a mostrar brandura e modéstia quando provocados e irritados. Tenha-se por certo que ninguém, jamais chegará por outro caminho à verdadeira mansidão, a não ser dispondo-se de coração a rebaixar-se a si mesmo e a exaltar os outros. Será inútil ensinar a mansidão, a menos que tenhamos iniciado com humildade”.
            A mansidão não é uma qualidade natural (inata), nem uma disposição que herdamos dos nossos pais. Na verdade, o contrário é inato, ou seja, a rebelião. Mansidão só nos vem como resultado da operação do Espírito Santo em nós. Richard Baxter (1615- 1691, líder puritano inglês) definiu mansidão como “força sob controle”. Mansidão é compatível com força de caráter!
            À luz dos ensinamentos Bíblicos podemos dizer que a mansidão é: essencial ao ensino–(2ªTm2:25); necessária para o aprendizado (Sl25:9); característica dos eleitos(Cl 3:12); preciosa diante de Deus(1ªPe 3:4); indispensável para o testemunho cristão(1ªPe 3:15); o segredo da conquista e do poder (Sl 149:4 e Mt 5:5); necessária para o cristão que deseja ser sábio (Tg 3:13-18).
            A Bíblia destaca a vida prática de Abraão, Moisés (Números 12:3) e Estevão, como exemplos de mansidão e, sobre todos, exalta o próprio exemplo de Jesus, que sempre teve a mansidão como a marca do seu caráter (Mt 11:28-30).
            A mansidão nos livra da hipocrisia e nos capacita para aguardarmos a volta de Jesus como vitoriosos (Sofonias 2:3). A violência desperta o revide, contudo, a mansidão desvia a fúria (a violência). Por meio da violência os resultados são ínfimos e duvidosos. Fale e aja com mansidão, certamente os resultados serão maiores, melhores e abençoados. ‘Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos’ (Zacarias 4:6).

Rev. Marcos Serjo
Pastor Sênior da IPB Central de Cuiabá

O Poder da Paciência na Formação do Caráter


Sede, pois, irmãos, pacientes, até à vinda do Senhor. Eis que o lavrador aguarda com paciência o precioso fruto da terra, até receber as primeiras e as últimas chuvas.Sede vós também pacientes e fortalecei o vosso coração, pois a vinda do Senhor está próxima (Tiago 5:7-8).

            Atribui-se à Margaret Thatcher, a “Dama de Ferro” (primeira-ministra do Reino Unido de 1979-1990) a seguinte frase: “Eu sou extremamente paciente contanto que consiga o que quero no final”. Algumas pessoas, comumente, oram a Deus assim: “Senhor, dá-me paciência, e eu a quero AGORA!”
            Nas últimas décadas temos vivido a cultura do imediatismo. As pessoas, cada vez mais impacientes, tentam resolver seus problemas em questão de minutos, como se não houvesse amanhã.Muitos lidam com as suas necessidades como se fossem para ontem e, pressionados pela tirania do tempo, vivem como se sempre estivessem‘apagando incêndio’. A maioria busca resultados pragmáticos. Para muitos, algumas semanas ou meses, podem parecer uma eternidade. Jovens desistem no primeiro ano da faculdade, porque o curso tem 8 semestres de duração. Outros entram numa academia e em uma semana querem ficar com corpos esculturais, “sarados”.
            Visivelmente, vivemos em uma época na qual a paciência já não mais é vista como uma virtude que devemos cultivar, a maioria quer satisfazer seus egos de forma imediata e a todo custo.
            As pessoas, geralmente, se esquecem de que as vitórias e os objetivos somente são alcançados após muito trabalho, dedicação e tempo, e que,uma boa dose de paciência será necessária para que as coisas realmente aconteçam. A paciência é um elemento fundamental para a vida cristã, consequentemente, indispensável para o caráter cristão. Trata-se de uma virtude imprescindível para os dias atuais, principalmente, face ao corre-corre cotidiano.
            Normalmente, quando tudo está bem e do jeito que queremos, é fácil demonstrar paciência. O verdadeiro teste de paciência aparece quando nossos direitos são violados ou em meio às adversidades. Nesses momentos, a impaciência é quase como uma “ira justa” (“santa”). A Bíblia, no entanto, fala da paciência como um fruto do Espírito Santo (Gálatas 5:22), o qual deve ser produzido por todos os cristãos (1ª Tessalonicenses 5:14).
            A verdadeira paciência revela a nossa fé no fato de que Deus sabe qual o melhor tempo para tudo em nossa vida e, que Ele é onipotente e Pai amoroso.
            A Bíblia deixa claro que a paciência é o oxigênio que nutre o amor, a fé e a esperança, visto que os três devem ser pacientes. Assim sendo, sem a paciência, as três maiores virtudes não terão significação real. Por isso, a paciência não é uma opção para o verdadeiro cristão, e sim, uma expressão do seu caráter!
            Muitas pessoas consideram a paciência como uma espera passiva, geralmente, relacionada com inércia, moleza, cansaço ou falta de expediente, contudo, a maioria das palavras gregas traduzidas como “paciência”, no Novo Testamento, são palavras ativas, ricas e saudáveis e, basicamente significam: estabilidade; constância; tolerância; espera por alguém ou algo lealmente; persistência; permanência num estado ou numa atividade mesmo em caso de oposição; lealdade à fé e piedade, mesmo diante das maiores provações e sofrimentos; não perder o ânimo;longanimidade; resistência; suportar as ofensas e injúrias de outros”.
            Resumidamente, as palavras traduzidas por paciência, aparecem em quatro contextos bíblicos com os seguintes significados:
PERSEVERAR - No ensino escatológico de Jesus o termo aparece como parte integrante da salvação: "Aquele que perseverar (“hypomeno”) até o fim será salvo"( Mt 24:13 e Mc13:13).  No texto de Lucas, Jesus diz: "É na vossa perseverança (“hypomone”) que ganhareis as vossas almas" (Lc21:19 ). O contexto é o discurso escatológico de Jesus, no qual os discípulos foram advertidos sobre as numerosas provocações, inclusive, sobre as reais probabilidades de serem odiados por todos por causa do nome d’Ele (Mt 24:9; Lc21:17). A severidade da situação exige perseverança!
Ainda em Mt24, na visão de Jesus, com a proximidade do fim, muitos se escandalizarão, trairão e odiarão uns aos outros, serão desviados por falsos profetas e, por causa da proliferação da maldade,  "o  amor se esfriará de quase todos". Nesta época, quem não tiver paciência não resistirá!
ESPERAR - No contexto de Rm8, a palavra se caracteriza pela atitude de aguardar (esperar) com paciência aquilo que não vemos. 24 “Porque, na esperança, fomos salvos. Ora, esperança que se vê não é esperança; pois o que alguém vê, como o espera? 25 Mas, se esperamos o que não vemos, com paciência o aguardamos” (Rm 8:24-25).
SUPORTAR - Uma outra característica da palavra é o ato de suportar. 1ªCoríntios13:4,7 "O amor é paciente [...] tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta(“hypomeno”). “Pelo contrário, em tudo mostramos que somos servos de Deus, suportando com muita paciência as aflições, os sofrimentos e as dificuldades”(2ªCo 6:4 BNLH – leia até o verso 10).À luz dos ensinamentos do apóstolo Paulo, quem tem paciência consegue TRANSFORMAR O PRÓPRIO SOFRIMENTO EM BEM (Rm5:1-4).
LONGANIMIDADE – (bondade, generosidade) -            No contexto da parábola do credor incompassivo (Mt 18:23-35), a palavra aparece no sentido de longanimidade: “Sê paciente comigo, e tudo te pagarei”.
            Paciência é a virtude que dá sustentação à fé, esperança e o amor na formação do caráter cristão. É uma das qualidades que Paulo pede em oração, especialmente para os cristãos colossenses:“sendo fortalecidos com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria,dando graças ao Pai, que vos fez idôneos à parte que vos cabe da herança dos santos na luz” (Cl 1:11-12).
            “Descansa no Senhor e espera nele, visto que, o Senhor é bom para com os que esperam por Ele” (Sl 37:7 e Lamentações 3:25). Lembre-se: a paciência revela o caráter cristão!
Rev. Marcos Serjo
Pastor Sênior da IPB Central de Cuiabá
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