“Quem entre vós é sábio e inteligente? Mostre em mansidão de sabedoria,
mediante condigno proceder, as suas obras” (Tiago 3:13).
Não
é demais reafirmar que o caráter cristão é formado pelo desenvolvimento das
virtudes cristas.
A
virtude que estudaremos hoje, indispensável para a formação do caráter cristão
é MANSIDÃO, do grego “πραυτης” – “prautes” (bondade
de espírito – brandura - manso), a oitava característica do fruto do Espírito Santo
e a terceira bem-aventurança (Gl5:23; Mt 5:3).
Assim como a paciência e o domínio
próprio, a mansidão é uma virtude escassa em nossos dias, contudo, extremamente
necessária.
No
pensamento e na linguagem modernos, a mansidão não é uma qualidade admirável.
Hoje em dia, a palavra contém uma ideia de falta de dinâmica e ânimo, ou falta
de força e virilidade. Comumente achamos
que manso é aquele indivíduo que tem "sangue de barata". Realmente a
nossa língua e cultura empobrecem demasiadamente a palavra grega traduzida por
mansidão. No Novo Testamento, ao contrário de inércia, fraqueza, covardia ou
medo; a palavra grega “prautes” fala do poder de abrandar,
acalmar e tranquilizar. Fala da virtude que é "o unguento que pode aliviar a dor de uma ferida", da suavidade da
voz daquele que ama.
Na realidade é uma palavra difícil
de definir, porque não há de fato uma palavra em nossa língua que corresponda
ao vocábulo grego. O Dicionário
Colegial de Webster dá um significado mais antigo de brandura como "suportando
a ferida com paciência e sem ressentimento". Talvez não seja um significado
muito longe da palavra Bíblica, mas o grego é muito mais positivo.
Na
Bíblia, a palavra mansidão aparece com os seguintes significados, dentre
outros: Brandura (Gl6:1); Cortesia – atencioso (Tt3:2); Amável (Ef4:2); Discreto – não faz alarde (Tg 3:13);
Bondade (1ªCo4:21); Modéstia (1ªTm 3:2)
e, nas versões inglesas, ainda aparece com o sentido de humildade de sabedoria
e espírito terno que perdoa (ternura).
Podemos
dizer que a mansidão é o marketing do Testemunho Cristão, é o cartão de visitas
do crente, é a virtude de frente. Se é verdadeiro o adágio que diz "que a
primeira impressão é a que fica", sem dúvidas, a mansidão é a virtude
responsável pela primeira impressão. Esta virtude traduz um milagre de Deus,
onde Ele concilia força e delicadeza, força e suavidade.
Os
grandes sábios da antiguidade exaltaram demasiadamente esta virtude. Nos
escritos de Platão e Aristóteles ela é citada como a arma dos verdadeiros sábios
e poderosos. Platão chega compará-la a um cão de guarda que revela ferocidade e
hostilidade valente aos estranhos e amizade gentil para com os de casa, aos
quais conhece e ama. Segundo Platão, "manso é aquele que tem ao mesmo
tempo impetuosidade e delicadeza nos mais altos graus". Para
Aristóteles, mansidão ("prautes")
é a “capacidade para suportar recriminações e ofender com moderação, sem
embarcar em vinganças rapidamente, e não ser provocado facilmente à irritação,
mas estar livre de amargura e de contenção, tendo tranquilidade e estabilidade
no espírito" (Sobre Virtudes e Vícios). Isto não implica que nunca há um
lugar para a irritação no homem gentil. Certamente a pessoa que mostra "prautes" se zanga "pelo motivo
correto, e contra as pessoas corretas, e da maneira correta, e no momento
correto, e pelo tempo correto" (Aristóteles, Ética a Nicómaco)
Paulo,
em particular, exortava todos os cristãos a demonstrarem esta qualidade em suas
vidas. Para ele, a mansidão é um sinal de maturidade para todos os cristãos em
todos os seus relacionamentos (Cl3:12;Ef 4:1-4; 1ªTm 6:11).
Segundo
Calvino, “há muitos que mantêm certa aparência de mansidão e de modéstia,
enquanto não são contrariados por coisa alguma. Mas, poucos são os que
continuam a mostrar brandura e modéstia quando provocados e irritados. Tenha-se
por certo que ninguém, jamais chegará por outro caminho à verdadeira mansidão,
a não ser dispondo-se de coração a rebaixar-se a si mesmo e a exaltar os
outros. Será inútil ensinar a mansidão, a menos que tenhamos iniciado com
humildade”.
A mansidão não é uma qualidade
natural (inata), nem uma disposição que herdamos dos nossos pais. Na verdade, o
contrário é inato, ou seja, a rebelião. Mansidão só nos vem como resultado da
operação do Espírito Santo em nós. Richard Baxter (1615- 1691, líder puritano inglês) definiu
mansidão como “força sob controle”. Mansidão é
compatível com força de caráter!
À
luz dos ensinamentos Bíblicos podemos dizer que a mansidão é: essencial ao ensino–(2ªTm2:25); necessária para o aprendizado (Sl25:9);
característica dos eleitos(Cl 3:12);
preciosa diante de Deus(1ªPe 3:4); indispensável para o testemunho cristão(1ªPe
3:15); o segredo da conquista e do poder
(Sl 149:4 e Mt 5:5); necessária para o
cristão que deseja ser sábio (Tg 3:13-18).
A
Bíblia destaca a vida prática de Abraão, Moisés (Números
12:3) e
Estevão, como exemplos de mansidão e, sobre todos, exalta o próprio exemplo de
Jesus, que sempre teve a mansidão como a marca do seu caráter (Mt 11:28-30).
A
mansidão nos livra da hipocrisia e nos capacita para aguardarmos a volta de
Jesus como vitoriosos (Sofonias 2:3). A
violência desperta o revide, contudo, a mansidão desvia a fúria (a violência). Por
meio da violência os resultados são ínfimos e duvidosos. Fale e aja com
mansidão, certamente os resultados serão maiores, melhores e abençoados. ‘Não por força, nem por violência, mas pelo meu Espírito, diz o Senhor dos Exércitos’ (Zacarias 4:6).
Rev. Marcos
Serjo
Pastor Sênior da
IPB Central de Cuiabá
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